“DIZER NÃO É EGOÍSMO.”
Foto: IStock
Por Vanda Araujo
Todos carregamos construções de verdades em nós. Essa é uma das suas?
Essa frase é quase sempre repetida em forma de afirmação, mas felizmente algumas pessoas já ousam expressá-la como um questionamento.
E esta dúvida quase sempre é fruto da percepção da própria pessoa de sua necessidade de dizer sim, de agradar, de buscar aprovação, a fim de atender uma falta, uma lacuna não preenchida numa fase importante e sobre a qual estruturamos o resto de nossas vidas, a infância.
Uma criança que não se sentiu aceita por simplesmente ser, mas por ser obediente, boazinha, tende a continuar fazendo, atendendo, para continuar a se sentir aceita e a ser um adulto com um elevado nível de autocobrança.
A essa construção muitas aliam uma visão religiosa que prega um espírito de serviço desvalido de si mesmo, de sua própria importância.
São construções que se refletem em afirmações como, “viemos ao mundo pra servir, por isso estou sempre pronta para ajudar, mesmo tendo que me adiar. Vale a pena…” ou “Não posso me cuidar agora, porque preciso comprar algo para alguém”.
E de tanto se adiar, se deixar pra depois, já não se reconhece, não se permite sentir ou cultivar sonhos, pois permitir trazer à consciência provoca dor. Muitas vezes a dor do arrependimento por não ter tentado viver a própria vida, não ter se respeitado mais é a única emoção que passa a guiar as escolhas adultas.
E se adiar tem forçado tantos a procurar ajuda, pois o corpo não pode sustentar essa forma de vida.
Acontece que os não ditos ou reconhecidos em nós, encontram no corpo a forma de expressão e daí as várias doenças que não respondem ao tratamento médico.
Não era bactéria, nem vírus... Era estresse, frustração, angústia.
Nossa!
Todos sempre viam uma pessoa tão capaz, era a mais forte, parecia não precisar de ninguém, resolvia tudo.
E esses seres por vezes destituídos de seu valor passam a receber “incentivos” que minimizam ou ignoram sua dor com falas como “força, você é forte!”, “Não chore, agradeça porque sua vitória vai chegar”, "Você sai dessa, é guerreir@!” vindas de pessoas indisponíveis a ouvi-las, que se acostumaram a serem cuidadas e não estão dispostas a cuidar (ouvir, considerar, amparar).
Então a solidão de abraços que nunca vieram, de uma ligação que não se completa, de um afeto que se prova ilusório, da dor não reconhecida, de lágrimas nunca mostradas, podem levar qualquer “cuidador@ inveterad@” ao fundo do poço.
Facilmente passa a ser considerada a "louca", com crises injustificadas, a “depressiva” como ofensa, não cuidada.
E nessa situação, muitas são capazes de 'perceber' ...
O problema não está no fato de você fazer pequenos favores. A grande questão é quando agradar as pessoas se torna um vício e você não consegue dizer não.
… Ah, os NÃOS são tão necessários.
Entenda e busque adequar a ajuda que pretende proporcionar, perguntando ao outro se fará sentido pra ele receber, pois ela deve atender requisitos básicos e saudáveis para ambos. É realmente uma necessidade do outro, por ele verbalizada?
O fato de ouvir sobre o problema do outro não te faz responsável pela resolução. Muitas vezes o fato de desabafar o ajuda a pensar em possibilidades.
Sua necessidade de fazer por ele pode estar atrofiando o “músculo da iniciativa” de quem você pretende ajudar.
Certifique-se de que você está fazendo porque é algo que você já faz por você, sem expectativas de retorno, ou agradecimentos. Para não se frustrar, caso faltem.
Enfim, garanta que sua busca de ganhos (se sentir aceita, pertencente, reconhecida, elogiada) não colocará o outro numa zona de conforto, incapacitando-o para as escolhas que a vida requer.
A virtude moral da abnegação não tem a ver com saúde mental, é sacrifício. E o sacrifício frequente é adoecedor.
Tentar dar ao outro o que você não dá ou faz por você te esvai. É como suicídio em câmera lenta. Sacrifício, dor, doença, suicídio, morte ...
Atenta para o fato de que toda vez que você diz sim querendo dizer não, você está desrespeitando a pessoa que mais importa, você. E, em muitas situações, determinando a forma como deve ser tratada pelos demais.
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Sobre a autora: Eu sou Vanda Araujo (abreviatura, viu?!). Sou graduada em Psicologia, especialista em Terapia Familiar Sistêmica, com formação em Terapia Comunitária Integrativa e em Análise Corporal. Atendo adultos (individual e casal) de forma predominantemente remota e te afirmo que a maior distância entre as pessoas não é geográfica, é afetiva. Não importa em que parte do mundo você esteja, a distância é indiferente. O que é realmente importante é a relação sincera e confiável que estabelecemos entre eu e você.
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