O amor que mata

 

Foto: Instagram/Reprodução

Dizem que o amor é um lugar seguro. Mas e quando ele se transforma em armadilha? Quando passa de promessa a sentença? Quando a pessoa que dizia proteger é justamente quem fere? Vanessa Ricarte não terá a chance de responder. Seu tempo foi roubado, sua voz calada, sua história interrompida a golpes de faca. O feminicídio tem esse roteiro sujo e previsível: começa com controle, se alimenta de ameaças e termina com sangue.

Na última semana, Vanessa pediu socorro. Registrou um boletim de ocorrência. Conseguiu uma medida protetiva. Seguiu o protocolo que dizem que salva. E morreu assim mesmo. A única coisa que a justiça conseguiu impedir foi que Caio fugisse para bem longe. E, honestamente, isso é o mínimo – que não muda o desfecho de uma história que já lemos antes, inúmeras vezes.

O problema é mais profundo. Estamos criando homens que não sabem ouvir "não", que confundem posse com afeto, que tratam o fim de um relacionamento como uma falha do sistema que precisa ser corrigida à força. Homens que acreditam que sua dor justifica sua violência. Que acham que terapia é frescura, mas perseguir, ameaçar e matar é uma reação válida. E, enquanto isso, mulheres vivem com medo. Porque nunca sabem qual frustração masculina pode custar suas vidas.

A morte de Vanessa não é um caso isolado. É um ciclo. Um ciclo onde mulheres denunciam, gritam, mas continuam morrendo. Onde as manchetes estampam nomes diferentes, mas contam sempre a mesma tragédia. O Brasil se orgulha de reduzir os índices de feminicídio em 5% no último ano. Como se menos fosse o suficiente. Como se a vida dessas 5% de mulheres justificasse o alívio de um número.

E enquanto homens se recusam a olhar para dentro, a reconhecer suas próprias sombras, mulheres pagam com a vida. Relacionar-se virou um campo minado. Amar, um risco calculado. A cada feminicídio, não só uma mulher morre – morre também a esperança de que podemos viver sem medo. E o que sobra são mais nomes para velar, mais histórias interrompidas e uma pergunta que ninguém quer responder: quando é que os homens vão se tratar?


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
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laissousazn@gmail.com

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