Brasil e o ritmo que está tirando o fôlego do coração do mundo

Foto: purepeople

Eu vou tomar um tacacá

Dançar, curtir, ficar de boa

O norte do Brasil, que abriga o coração (verde, tropical e exuberante) do mundo, é inspiração do “hino” que, mesmo após 8 anos de lançamento, continua exaltando a região ao ser revivido de forma viral e fazer ferver (não só em temperatura) até os locais mais distantes e improváveis. Estamos falando de um fenômeno tão contagioso que até a turnê do RBD foi invadida pelo ritmo do Pará, rendendo um convite para tomar um “Tacacá” da própria rainha pop da floresta, a Joelma!

Estádios lotaram no reencontro épico do RBD. A nostalgia ganha vida com grupo que fazia os adolescentes dos anos 2000 soltarem seus gritos bem rebeldes e continua fazendo tantos corações latinos baterem no mesmo compasso. Não sou nem louca de ser mais de uma membra da imprensa “afrontosa” que resolve chamar a atenção com críticas ao fenômeno musical que fez toda uma geração “aprender” espanhol, muito menos ser a fã que se revolta com os famosos por aproveitarem os privilégios de estar pertinho da banda que desprestigiou maior parte dos estados brasileiros.

É incontestável a forma como o fã brasileiro e apaixonado se mobiliza, dá o nome e faz os ídolos se sentirem em casa, a ponto de Giovanni (Christian Chávez) estar confortável em se amar e ser “viado”, Mia Colucci (Anahí) se emocionar com o “Salvame” mais alto que sua voz pudesse gritar, Dulce Maria declarar amor pelo funk e descer até o chão, Lupita (Maite Perroni) se desnortear e sair do palco com os dançarinos. Coisa de fazer Miguel (Alfonso Herrera) chorar no banho por “Solo Quédate En Silencio” sem ter participado da turnê…

Mas, em meio a essas festas de acordes envolventes, ecoam também outros ritmos, há algo mais fervendo nas entranhas do país. A natureza parece estar fazendo sua própria dança que nos faz questionar se estamos vivendo numa eterna sauna. Assim como o “Tacacá” e a paixão de fã, não dá para ignorar a sinfonia climática. Não é só desconforto. É emergência. O Brasil está sentindo isso na pele, ou melhor, suando de calor.

O litoral está de “ressaca”, e não é de festa. As ondas invadem e nos atingem como um tapa molhado da mãe natureza, desafiando a lógica meteorológica como nunca. No meio deste “carnaval”, algo vai bem mal. É como se a própria natureza estivesse nos dizendo: "Ei, hermanos, tá na hora de acordar desse sonho e começar a cuidar da casa".

A tempestade que deixou São Paulo no escuro é um sinal claro de que os ventos estão mudando, e não para melhor. Não podemos fechar os olhos para os 80 mil hectares de queimada no Pantanal e no quintal do lado de casa. A natureza está enfrentando sua própria batalha e a gente vai ficar nessa de “rebeldia” de “así soy yo”?!

Sente o sabor desse refrão: Não dá pra olhar pra tudo isso e não pensar em mudar. Não dá para brincar de carregar nas costas as posturas imaturas que aceleram a degradação. Está na hora da consciência cantar em uníssono, porque não adianta culpar o pessoal do agro - que está pop até demais -, se nós, com nossos hábitos cotidianos, também financiamos o sistema que contribui para a degradação ambiental.

Somos parte do problema e vítimas dele. Se cada um se preocupar em fazer o mínimo, já se torna bem maior que o grande “deitado em berço esplêndido” que a Ludmilla canta lindamente para nos representar enquanto nação. É hora de repensar nosso consumo, nossos hábitos, nosso impacto. Os churrasquinhos, os copos plásticos, os aparelhos de ar condicionado no máximo, os banhos longos, as embalagens descartáveis - tudo isso é muito dissonante e precisa ser reescrito para que esta história de amor adolescente fique menos dramática e menos sofrida.

Enquanto celebramos a música, as festas e os reencontros, que também possamos nos comprometer com a melodia mais importante de todas: a harmonia entre nós e o planeta. É hora de nos mobilizar e mostrar “um poco” desse amor também por nosso país/casa. O show da vida continua e precisamos ajustar nossos instrumentos para uma sinfonia com menos desarranjos climáticos. Vamos entrar numa onda do cuidado, dançar no ritmo da natureza e tacar alegria na auto responsabilização para que o ambiente também fique “de boa”.

A coreografia precisa ser diferente! Não dá para ficar descabelado, perder tudo e seguir no mesmo passo que nos trouxe a esse salão em que ecoa o descompasso. Não dá para viver de recordações do país “abençoado e livre de danos” que já não somos, enquanto o clima ensaia um colapso. A batida da consciência ambiental precisa ser incorporada à nossa trilha para o futuro não ser mais trágico do que um refrão fora do tom ou turnê fora da rota, né?! (alguém já conseguiu perdoar Beyoncé?)


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

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