Fazer música no Brasil ficou “fácil”?

Hoje, enquanto usava o Spotify, por curiosidade, decidi abrir o top 50 das músicas mais ouvidas no Brasil e logo dei de cara com uma canção que os primeiros versos são: “Ô, garota, eu quero você só pra mim / Botou a bunda com o dinheiro do Tigrin'/ Vem pro Rio que tu sabe que sou cria / Vem mostrando esse bundão de academia”. Não satisfeito com essa incrível canetada (contém ironia), entrei no perfil do artista e descobri que é simplesmente um dos “cantores” mais escutados do país, com mais de 13 milhões de ouvintes. Nesse texto, vou me permitir ser um pouquinho chato para buscar uma resposta para a seguinte questão: fazer música no Brasil ficou “fácil”?

Obviamente, assim como quase tudo nessa vida, os artistas também passaram a ver o seu trabalho como um produto comercial, que precisa ser divulgado e comprado para que o dinheiro entre. Eu entendo isso. Mas agora esse parece ser uma espécie de “o novo normal”. Outro ponto que pode ter influenciado diretamente para que isso acontecesse é o modelo que se consolidou em redes sociais, que priorizam vídeos curtos e trends, como o TikTok e o Reels, no Instagram, além das populares “dancinhas”. Tem gente que vai pro estúdio já pensando em acertar uma parte de trinta segundos para ser usada em todo e qualquer vídeo. 

Estes aspectos afetam diversos estilos musicais, mas, para falar com mais propriedade, irei destacar o rap nos últimos anos. O gênero pode ser dividido em duas fases em um intervalo de tempo que começa no fim da década de 2010 e o começo da década de 2020; o ano lírico, marcado pelo boom-bap, uma vertente que prioriza que as músicas tenham uma mensagem e faça o ouvinte refletir sobre temas como a violência policial, desigualdade social e econômica, racismo, entre outros, e o Trap, que chegou com força no Brasil em 2018, apesar de já existir antes, e teve o seu primeiro grande sucesso nesse ano, com a faixa “Plaqtudum”, do grupo Recayd Mob.

A partir daqui, as coisas mudaram - e muito. O Trap tem características que, de certa forma, se assemelham um pouco ao funk, com letras que exaltam conquistas materiais, o dinheiro, o sucesso e tudo o que vem com ele. De repente, estava todo mundo escrevendo sobre carros caros, quanto gastou com um combo de bebida numa festa e na quantidade de mulheres que eram atraídas por esse padrão de vida (ao menos, na visão dos artistas). O problema meio que foi esse. Parece que toda música “nova” era a mesma, sempre com os mesmos termos, só espalhados em ordens diferentes e cantadas por artistas diferentes.

Acho que o auge desse ciclo se deu ali por 2021/2022, com a ascensão do Trap carioca, que, por um tempo, foi um diferencial, mas depois caiu no mesmo problema. Algumas gírias que eram cantadas em inglês foram “adaptadas” para o português nessa época e trouxeram um ar de brasilidade para o som, porém, não durou muito tempo. Ainda por cima, nesse mesmo período de tempo, iniciou-se um movimento onde havia um grande foco em fazer álbuns - que, em muitas vezes, pareciam mais um conjunto de músicas aleatórias agrupadas só para vender e dizer “vocês queriam um álbum, eu fiz, tá aí”. 

Um exemplo disso é o (cansativo) álbum “Vida Cara”, do rapper carioca Orochi, que tem 26 músicas e mais de uma hora de duração, e que ainda conta com uma versão deluxe com mais dez músicas. Mas os números batem e vendem, é o que importa hoje, não é?

Não só a qualidade das letras e canções diminuiu, mas a dos shows ao vivo também. Muitos artistas, na verdade, nem chegam a cantar suas músicas por completo. Ao ouvir uma apresentação, fica visível a diferença entre uma música de estúdio e uma música ao vivo. O autotune marca presença e mesmo assim tem quem ainda consiga errar já usando uma ferramenta que serve para corrigir a sua afinação vocal.

Eu fui produtor musical por um tempo e, honestamente, ainda bem que encontrei o Jornalismo. Escrever textos nesse tom de crítica não é muito a minha pegada, então considere isso mais como uma reflexão de um ouvinte do que as considerações de um especialista. Existem músicas para todos os gostos e públicos. Encontre o que você gosta e se isso faz sentido para você, então, tudo bem. Mas voltando a pergunta central deste texto: fazer música no Brasil não ficou fácil; escutar música no Brasil que ficou difícil (risos).


Danilo Souza

Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), músico e produtor audiovisual independente.

danilosouza.jornalismo@gmail.com (Email)
@danilosouza.jornalismo (Instagram)

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