Raul Seixas é a mosca que pousou na sopa dos conservadores
De acordo com o dicionário, uma metamorfose é definida como a mudança completa de forma, natureza ou estrutura de algo. Já para a música, a metamorfose se define como Raul Seixas, um maluco beleza de personalidade singular e que ensina que é melhor ter a ambição de mudar do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Em seu álbum de estreia, “Krig-Ha, Bandolo”, o artista baiano apresenta um grande cartão de visitas e mostra que veio para ficar, mesmo que seja para ser uma mosca na sopa daqueles que se acham uns maiores que os outros com base em suas patentes militares.
Em um conjunto de onze canções, Seixas vai da necessidade de viver e se adaptar às mudanças até “a ânsia de ter e o tédio de possuir”, tese do filósofo alemão Schopenhauer, uma das referências para a história que cerca a faixa “Ouro de Tolo”. Mas tem muito caminho entre a mudança e o tédio de possuir, e como tem! Em “Krig-Ha, Bandolo” há muita coisa, como o rockabilly meio Elvis Presley, mas sem se perder da ginga do baiano, o folk de Bob Dylan em “A Hora do Trem Passar” ou até mesmo as críticas indiretas ao regime da ditadura militar em “Dentadura Postiça” - e, pasmem, essa música passou ilesa pelo Serviço de Censura às Diversões Públicas. Ou por que não citar os “conselhos” de Raul para o mafioso estadunidense Al Capone? “[...] Hei, Al Capone, vê se te orienta! Assim dessa maneira, nego, Chicago não aguenta”. É, o maluco beleza pode tudo!
Então, por possuir várias referências para a criação do “Krig-Ha, Bandolo”, pode-se considerar que ele não é um álbum único e/ou original? Nananinanão, senhoras e senhores, muito pelo contrário! O disco se diferencia justamente por caracterizar a habilidade da mudança, da metamorfose, da mosca na sopa que se transforma em tudo o que ela quiser ser, mas sem nunca deixar de ser ela mesma. Uma mosca da Bahia que alçou voo para o Rio de Janeiro tentar a sorte grande, como dizem por aí, porque ainda tem uma porção de coisas grandes para conquistar e não pode ficar por aí parado.
Em suma, “Krig-Ha, Bandolo” é marcado pela ousadia, a coragem de andar em direção ao novo ou desconhecido e também não ter medo de dar a cara à tapa em meio a tempos tão turbulentos. É falar o que quer, quando quer e do jeito que quer. E se algum dia houver a vontade de mudar, que mude! Na sopa quente dos bons e imutáveis costumes, Raul Seixas é a mosca que incomoda e causa raiva em cada um dos conservadores sentados à mesa. “Eu sou a mosca que pousou em sua sopa, eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar! Eu sou a mosca que perturba o seu sono e não adianta vir me detetizar!”
Danilo Souza
Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), músico e produtor audiovisual independente.danilosouza.jornalismo@gmail.com (Email)
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