Os olhares que silenciam: a dor da indiferença e a necessidade de enxergar a humanidade no outro
Os olhares. Eles dizem mais do que palavras. E, muitas vezes, são os olhares que revelam o que há de mais triste na condição humana: a incapacidade de lidar com as diferenças. Em um mundo que se orgulha de ser plural, ainda nos deparamos com cenas que nos lembram o quanto precisamos evoluir como sociedade. A escola, por exemplo, deveria ser o espaço por excelência da convivência, do aprendizado mútuo, da celebração da diversidade. Afinal, é ali que crianças e jovens de diferentes origens, culturas, características físicas e habilidades se encontram. Mas, infelizmente, é também ali que muitas vezes a indiferença e o preconceito se manifestam de forma mais crua.
Quantas vezes um pai ou uma mãe entra na escola com um filho que tem alguma deficiência e percebe que as pessoas cumprimentam a eles, mas ignoram a criança ao seu lado? Quantas vezes um olhar desviado, um silêncio constrangedor ou um gesto de distância, machuca mais do que qualquer palavra? Essas cenas não são apenas tristes; são reveladas de uma realidade que ainda precisamos enfrentar: a de que muitas pessoas não foram educadas para conviver com as diferenças. E, pior, muitas vezes agem como se a diferença fosse algo a ser temido, evitado ou, simplesmente, ignorado.
Estamos próximos do mês de março, quando celebramos o Dia Mundial da Síndrome de Down. Esses dados não são apenas uma oportunidade para falar sobre inclusão, mas também um convite à reflexão: até que ponto somos todos iguais? Suficientemente iguais para discriminar quem é diferente? A pergunta é dura, mas necessária. Porque, no fundo, a indiferença e o preconceito são frutos da ignorância. E a ignorância, como bem sabemos, é uma das maiores barreiras para a construção de uma sociedade verdadeiramente humana.
O problema é que o preconceito nem sempre se manifesta de forma explícita. Ele está nos detalhes: no olhar que desvia, no cumprimento que não é dado, no silêncio que fala mais alto do que qualquer palavra. E é justamente essa sutileza que machuca profundamente. Porque, enquanto o argumento pode ser rebatido, o olhar que silenciado é como uma faca que fere sem deixar marcas visíveis. E, muitas vezes, é essa dor silenciosa que carregamos conosco, como pais, como cuidadores, como seres humanos que desejam apenas que seus filhos sejam tratados com dignidade.
Mas há esperança. E ela começa com o conhecimento. Como diz a famosa frase: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". A verdade, neste caso, é que as diferenças não nos diminuem; pelo contrário, nos enriquecemos. A verdade é que todos nós, independentemente de nossas características físicas, habilidades ou origens, merecemos respeito e dignidade. A verdade é que, para construir um mundo melhor, precisamos aprender a enxergar a humanidade no outro – não apesar das diferenças, mas por causa delas.
Que este mês de março, e todos os meses que virão, receba um convite à mudança. Que possamos olhar nos olhos daqueles que são diferentes de nós e ver neles não um motivo para desviar o olhar, mas uma oportunidade para aprender, crescer e, acima de tudo, amar. Porque, no fim das contas, é o amor – e não o medo ou a indiferença – que nos libertará de verdade.

Júnior Patente
Júnior Patente, profissional de comunicação desde 1984 em Rádio, Jornal, TV, Assessoria de Comunicação e Internet. Pai atípico, tem como meta hoje trabalhar pela inclusão de Pessoas com Deficiência.Instagram: @junior_patente